domingo, 2 de maio de 2021

A Crise do Encilhamento

Recorte da capa do livro O Encilhamento, Visconde de Taunay (1923).

     A Crise do Encilhamento foi uma crise econômica ocorrida no período da implantação da republica, em que, houve a tentativa da aplicação de uma nova política econômica durante o governo de Deodoro da Fonseca, tal política teve como autor o Ministro das Finanças Rui Barbosa. Antes de ser exposto mais detalhadamente o que foi essa crise, se faz necessário explicarmos qual o contexto da política econômica fracassada de Rui Barbosa.
     Durante o final do século XIX, a economia do Brasil tinha como maior base a agricultura, especialmente, no cultivo do café. Embora a agricultura fosse importante, havia em muitos, principalmente nos republicanos positivistas, o anseio pelo início do processo de industrialização aqui no nosso país, o que traria a modernidade e o desenvolvimento econômico tão almejado. Entretanto, esse desenvolvimento era barrado por num sistema financeiro deficiente que vinha desde o Império, de modo que, não havia papel-moeda suficiente para pagar os trabalhadores assalariados, os quais cresceram após a abolição da escravatura.
     Tendo conhecimento dos problemas supracitados, Rui Barbosa, na época Ministro da Fazenda, elaborou um projeto que visava intensificar a industrialização, a fim de facilitar o desenvolvimento econômico, com o propósito de introduzir modernos mecanismos financeiros. Tendo como ideias e ações:

  • Modernizar o Brasil Por Meio da Industrialização: Era o objetivo central de Rui Barbosa, fomentar a industrialização para modernizar o Brasil e incentivar a atividade econômica.

  • Fomentar Novos Negócios: Para viabilizar o projeto de industrialização, também foi definido como objetivo estimular o desenvolvimento de novos negócios. Para isso, o ministro teve como estratégia definir uma política monetária com foco na livre emissão de créditos monetários pelos bancos. Deste modo, os bancos começaram a liberar empréstimos para as pessoas, mesmo sem conhecer as suas condições de pagamento delas.  

  • Incentivar a Economia Por Meio da Emissão de Dinheiro: Uma medida adotada por Rui Barbosa foi a de aumentar a emissão de papel-moeda para favorecer o crescimento econômico, visto que, a falta de dinheiro circulante no país era um problema. Então, a estratégia foi aumentar a produção de dinheiro para pagar assalariados e, dessa forma, expandir o mercado consumidor. Para isso, o governo permitiu que bancos e outros estabelecimentos emitissem dinheiro. O resultado foi a circulação de papel-moeda em quantidade excessiva, ou seja, havia mais dinheiro do que capacidade de produção e do que o lastro ouro do Brasil permitia.
    OBS.:  O lastro financeiro nada mais é do que uma garantia implícita de valor para diferentes ativos, sendo uma base de garantia para determinar valor da moeda de um país. No Brasil até certo tempo, era utilizado o lastro-ouro para determinar esse valor, que era o fundo em ouro que representava a quantidade de riqueza que o pais possuía, acontece que o brasil daquela época não tinha ouro correspondente a quantidade de dinheiro que foi impresso, gerando graves consequências.

  • Estimular o Setor Financeiro: Outro objetivo do governo era estimular o setor financeiro por meio da facilitação à abertura de sociedades anônimas. O qual, tinha intuito de incentivar o mercado a investir em ações na bolsa de valores. Para valorizar o produto interno, a medida adotada foi a criação de taxas alfandegárias para barrar a entrada de produtos estrangeiros no Brasil, dando prioridade para o desenvolvimento de produtos nacionais.

     Contudo, essa política não deu nada certo, surtindo um efeito contrário, pois desencadeou  uma grave crise econômica, tendo como consequências:

  • Desvalorização da Moeda e Aumento da Inflação: Graças a brilhante ideia da ampliação na emissão de papel-moeda, além do que o lastro permitia, gerou o efeito direto do agravamento da inflação para níveis elevados. Ocorrendo também a desvalorização da própria moeda.

  • A Falta de Moeda Circulante: O esperado pelo plano de Rui Barbosa, era de que o povo portador desse dinheiro fictício, aplicasse-o colocando a economia para girar, entretanto, muitas pessoas que pegaram esse dinheiro não geraram serviços ou produtos com ele, em vez disso muitos ou guardaram ele, ou colocaram em gado, em terra, em ouro e até em moedas estrangeiras.

  • Quebra de Empresas e Bancos: Ocorreu a quebra generalizada de empresas devido à inflação em alta e ao uso inadequado do crédito oferecido para a criação de negócios. Os devedores não conseguiam pagar os bancos, que quebraram mediante o alto volume de empréstimos concedidos sem prudência. 

  • Especulação Financeira Desenfreada: Surgiram práticas de especulação financeira desenfreada e a desconfiança por parte de investidores em relação ao mercado. Sendo assim, ações na bolsa de valores da época eram compradas exclusivamente para serem vendidas no futuro, mesmo em um cenário de incertezas. Sem fiscalização, empresas fantasma obtiveram créditos de má fé, negociavam ações com preço crescente mesmo sem terem operações e lançavam títulos falsos na bolsa, assim gerando especulações e prejuízos.

     Como o Brasil já vinha de uma crise econômica desde o Império, a fatídica política do Encilhamento, acabou aumentando ainda mais o volume da crise no pais,  gerando um enorme colapso econômico, sendo considerada um dos maiores fracassos econômicos da história do Brasil. Tais problemas econômicos em razão da política de Rui Barbosa, chegaram até o governo de Campo Sales (1898-1902), este sim que soube gerenciar  a crise dando um "fim" a ela.

- Curiosidade:

     Esse desajuste na economia ficou conhecido como crise do encilhamento em alusão à corrida de cavalos. Visto que, encilhamento, na linguagem utilizada em hipódromos, era a expressão utilizada para a confusão e jogatina presentes nos espaços de corridas, em que jóqueis encilhavam seus cavalos antes da largada. O encilhamento, então, designa a confusão que foi a  economia deste período.

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