Aurélio de Figueiredo. Martírio de Tiradentes (1893), óleo sobre tela. 57cm x 45cm. |
Com a instauração de um novo regime desconhecido pela população, por meio de um golpe, que a maioria também não fazia a menor ideia do que se tratava ou do porquê de estar ocorrendo, os republicanos logo viram-se na necessidade de criar símbolos que representassem toda aquela revolução. Na tentativa de conquistar o apoio do povo que até então estava atônito, surpreso e sem conhecer o que aquilo significava e também de apagar vestígios do regime monárquico, que há poucos dias ainda era o regime político do Brasil, autoridades republicanas encheram cidades com estátuas e outros monumentos à República, mudaram nomes de ruas, praças e repartições com referências à monarquia. Mas, o grande foco da repaginada brasileira dos republicanos e criações de símbolos da república afim de preencher o novo imaginário político nacional foram:
- A Bandeira: Nos primeiros dias da República, ocorreram alguns embates entre as três correntes ideológicas republicana: o jacobinismo, o positivismo e o liberalismo, sobre os símbolos da república. Na manhã do dia 19 de novembro, o Marechal Deodoro da Fonseca recebeu em sua casa alguns republicanos liberais, liderados por Lopes Trovão, os quais foram apresentar ao Marechal, o projeto da nova bandeira do Brasil. Bandeira esta que, assemelhava-se à dos Estados Unidos, com listras horizontais verdes e amarelas e um quadrado do lado esquerdo com as estrelas das federações. Como a proclamação fora liderada por militares positivistas e jacobinos, não caiu nada bem a ideia de criar uma bandeira brasileira que remetesse ao país norte-americano, Deodoro, considerou a bandeira que lhe fora apresentada por Lopes Trovão como um arremedo grosseiro da bandeira dos Estados Unidos. Entretanto, os republicanos insistiram, afirmando que só restava a Deodoro oficializar tal bandeira, pois a mesma já tremulava em alto mar, no mastro do Alagoas, navio que conduzia o Imperador deportado ao exílio. Diz se que, o Marechal deu um soco na mesa, exclamando: "Senhores, mudamos o regime, não a Pátria! Nossa Bandeira é reconhecidamente bela e não vamos mudá-la de maneira nenhuma!", os republicanos ficaram então sem reposta e no fim, a vitória desse embate foi dos positivistas, que optaram por manter as cores e formas básicas da bandeira imperial, retirando os emblemas imperiais: a cruz, a coroa, os ramos de café e tabaco. As estrelas, foram mantidas por insistência dos liberais, por lembrar a bandeira americana, colocadas então em um círculo. E Colocaram no meio da bandeira, dentro de uma baixa branca, a mais positivista das frases: “Ordem e Progresso”, que faz referência a frase “O amor por princípio, a ordem por base, e o progresso por fim” do principal ideólogo positivista, Augusto Comte. Entretanto, no caso brasileiro, deixaram o amor de fora. A obra foi do pintor Décio Villares.
A bandeira proposta pelos republicanos liberais e recusada por Deodoro e demais positivistas.
Protótipo da bandeira brasileira pintada por Décio Villares.
- O Hino: Na intenção de apagar marcas monárquicas que ainda eram presentes, o governo decidiu abrir um concurso para a escolha de um novo hino, visto que não tinha cabimento usar mais a Marselhesa, hino da Revolução Francesa, em celebrações à República do Brasil. Entretanto, um certo acontecimento deu novos rumos a tudo isso, em uma manifestação militar, no dia 15 de janeiro de 1890, ao ouvir novamente A Marselhesa e outras marchas militares, a multidão começou a pedir, pelo velho hino nacional, Deodoro então decidiu acatar ao pedido de que tocasse o hino. Há alguns relatos de que muitos ali presente até choraram emocionados. Por meio do amor populacional pelo hino de Francisco Manuel da Silva, de 1822, e também porque as canções apresentadas no concurso não agradaram muito, decidiu-se então que o hino antigo fosse mantido. O concurso para a escolha do hino nacional acabou se tornando no concurso para escolha do hino da proclamação da República, onde, o vencedor foi o hino da composição de Leopoldo Miguez, com letra de Medeiros e Albuquerque, o qual tem como refrão: "Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós!".
- O Brasão de Armas: Além da bandeira e do hino, foi instaurado pelo Governo. Desenhado pelo engenheiro Artur Zauer em encomenda do então presidente Deodoro da Fonseca, o Brasão de Armas traz elementos que representam o heroísmo, as riquezas naturais e a nobreza do país, é um escudo azul, apoiado sobre uma estrela de cinco pontas, disposta na forma da constelação do Cruzeiro do Sul, com uma espada em riste. Ao seu redor, está uma coroa formada de um ramo de café frutificado e outro de fumo florido sobre um resplendor de ouro, traz ainda a data da proclamação da República Federativa do Brasil, 15 de novembro de 1889. Ele é obrigatório nos edifícios dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e pelas Forças Armadas, estando presente também em todos os prédios públicos da Unidade Federativa.
O Brasão de Armas da República do Brasil, desenhado por Artur Zauer em 1889.
- O Selo Nacional: É o quarto símbolo nacional da nossa República, também foi criado em novembro de 1889, no governo de Marechal Deodoro da Fonseca. Traz a mesma esfera celeste do centro da bandeira nacional, representado por um círculo tendo em volta as palavras “República Federativa do Brasil”. Sendo usado em autenticação de documentos oficiais, atos de governo, diplomas e certificados expedidos por escolas oficiais ou reconhecidas.
O Selo Nacional em versão colorizada. |
- O Herói da República: Como dito pelo historiador José Murilo Carvalho, “Heróis são símbolos poderosos, encarnações de ideias e aspirações, pontos de referências, fulcros de identificação”, faltava à República esse herói, uma pessoa que tivesse um grande apego popular e que se relacionasse com as causas republicanas, o Marechal Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto e Benjamin Constant, não eram figuras tão conhecidas além do meio militares. Os republicanos não tinham este herói até o momento, desta forma, tiveram que voltar ao passado para encontrar alguma figura histórica que pudessem ter uma relação com o regime republicano vigente, acharam então Tiradentes, um personagem do século 18 que, teoricamente, caiu como uma luva. O mineiro tinha passado quase um século na obscuridade, como traidor da monarquia e como não havia registros de sua imagem e seus pensamentos, os republicanos tiveram liberdade para criá-los. Tornaram-no em um idealista pela liberdade do Brasil e por ter atuado como militar, a utilizações de sua imagem estabeleceria a ideia de que as classes militares sempre estivera em defesa das questões de interesse nacional. Suas representações passaram a se assemelhar com as da figura de Jesus Cristo, cabelos longos e castanhos, olhar cândido, vestes brancas, crucifixo no peito, onde sua popularização popular como mártir e herói nacional se deu a esse caráter religioso da alegoria a Cristo crucificado, com cabelos e barbas longas, criou-se então uma imagem de fácil associação e aceitação entre o povo e as elites em um país predominantemente cristão. A encomenda da imagem de Tiradentes esquartejado à Pedro Américo, a manipulação de sua imagem como um herói republicano e apropriação dela como o mártir da República, foi a mais eficaz das tentativas dos republicanos na construção de um imaginário para o novo regime.ATENÇÃO: A IMAGEM ABAIXO PODE CONTER CONTEÚDO SENSÍVEL PARA ALGUMAS PESSOAS
Pedro Américo. Tiradentes Esquartejado (1893), óleo sobre tela. 270 cm x 175 cm. |
- Algumas Curiosidades:
- A nossa bandeira atual originou-se da bandeira Imperial e sofreu algumas mudanças, tanto visuais quanto no significado de suas cores:
- Bandeira Imperial
Verde – A Casa de Bragança (Dom Pedro I).
Amarelo – A Casa de Habsburgo (Dona Leopoldina).
Losango – Remete às bandeiras do exército napoleônico.
Brasão azul com a esfera armilar – Presente desde a bandeira do Principado do Brasil, remete à tradição portuguesa.
Cruz vermelha – Referente à ordem de Cristo.
Anel azul carregado com 20 estrelas de prata – Referentes às 20 províncias do Brasil.
Dois ramos – um de café, o outro de tabaco, representando a agricultura brasileira. - Inicialmente, a bandeira não foi aceita por todos. Duas polêmicas foram levantadas na época: um astrônomo contestou as dimensões do Cruzeiro do Sul na bandeira, dizendo que o eixo da constelação em relação ao polo sul na bandeira, dizendo que o eixo da constelação em relação ao polo sul estava invertido (o erro foi comprovado e a bandeira que usamos hoje foi modificada para corrigi-lo). Outra controvérsia foi que o bispo do Rio de Janeiro se recusou a abençoar a nova bandeira por causa da divisa “Ordem e Progresso”. Para ele, tratava-se de apologia à Igreja positivista.
- A bandeira proposta pelos republicanos liberais que mantinha as cores, mas fugia totalmente dos traços presentes na anterior e era uma cópia descarada da bandeira dos Estados Unidos, bateu recorde ao ser utilizada somente durante 4 dias.
- Bandeira Republicana
Verde e amarelo – Interpretações a posteriori atribuíram as cores às riquezas naturais e minerais do país. Essa explicação, porém, não constava da justificativa de Teixeira Mendes para a nova bandeira.
Estrelas no céu azul – Reprodução do céu do Rio de Janeiro na manhã de 15 de novembro de 1889, com as estrelas representando os Estados da Federação.
“Ordem e Progresso” – Consequente da influência dos positivistas na proclamação da República. Augusto Comte (1798-1857), principal ideólogo positivista, escreveu: “O amor por princípio, a ordem por base, e o progresso por fim”.
- O brasão republicano, embora tenha sofrido reformulações brusca, ainda carrega símbolos adquiridos na monarquia, como o ramo de café e o de fumo.
Referências e Fontes de Conhecimento:
- Aula de história do professor Vanderlei Marinho Costa - 12/03/2021
- SOUSA, Rainer Gonçalves. "A construção simbólica da República"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/a-construcao-simbolica-republica.htm. Acesso em 29 de abril de 2021.
- https://veja.abril.com.br/especiais/a-republica-e-seus-simbolos/
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Tiradentes_esquartejado_(Pedro_Am%C3%A9rico)
- https://blogdoprofessorhenry.blogspot.com/2014/06/historia-governo-deodoro-da-fonseca.html
- https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-quais-foram-as-bandeiras-do-brasil.phtml
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