quarta-feira, 19 de maio de 2021

As Crises e As Revoltas da República Oligárquica

Hassis. Painel: Contestado - Terra Contestada (1985), Painel em Acrílico Sobre Eucatex. 12,60m x 2,83m.


     Como dito uma vez, pelo grande mentor Vanderlei Marinho, "Toda e qualquer rebelião é sintoma de uma grande insatisfação, quanto maior a rebelião, maior a insatisfação", podemos usar essa citação para descrever os últimos 24 anos da República Oligárquica, grandes insatisfações com a política da época, que geraram grandes revoltas. Logo após o fim da República da Espada, as elites econômicas do país, os cafeicultores, se encarregaram de manter os privilégios apenas para eles, antes os militares, depois as oligarquias.
     Claro que muitos não iriam ficar satisfeitos com a política do Café-com-Leite por muito tempo, mediante isso, durante esse período, tivemos quatro grandes revoltas que abalaram fortemente os governos oligárquicos, presididos alternadamente entre São Paulo e Minas Gerais. Foram elas:

  • A Revolta de Canudos (1896 - 1897): Também chamada de "A Guerra de Canudos", aconteceu no sertão baiano, onde teve o Exército brasileiro contra os habitantes de um arraial, até então chamado de Canudos, mas depois teve seu nome mudado para Arraial de Belo Monte. O arraial era liderado por Antônio Conselheiro, um líder religioso local que se instalou na região em 1893, após participar de protestos contra o aumento de impostos que tinha acontecido desde a Proclamação da República, Belo Monte transformou-se em um centro que trazia novas perspectivas de vida a uma população, uma perspectiva santa que ia contra ao novo regime instaurado na época. Canudos se tornou um risco para as elites da Primeira República e, por isso, na ótica dessas elites, precisava ser eliminada. Foi organizada então expedições com a finalidade de destruir a comunidade e dispersar os moradores dali, contudo, após três delas serem arrasadas pelo povo de Belo Monte, é organizado uma quarta, essa bem mais cruel, resultando na destruição do arraial e em um enorme número de mortos. Pela complexidade da Revolta de Canudos, faz se a necessidade de um post mais completo exclusivo a ela, que virá mais adiante. 

  • A Revolta da Vacina (1904): Basicamente, foi uma revolta do povo que se rebelou para não tomar vacina. Em 1904, a maioria da população não era escolarizada, tanto que o máximo do eleitorado que a república teve foi 5%, ou seja, praticamente 95% da população era praticamente analfabeta, nisso já pode se ter uma ideia do grau de informação do povo. Alguns outros fatores da revolta giraram em torno da relação do povo com o Estado Nacional, mais precisamente, do Rio de Janeiro, o local onde aconteceu tal revolta. A cidade do Rio de Janeiro no século XX estava passando por reformas urbanas, o famoso "bota-abaixo", que deu uma nova cara às cidades do Rio de Janeiro, baseado no padrão europeu francês Haussmaniano e com a derrubada dos centro antigos, as pessoas residentes dali foram jogadas de forma violenta nas periferias. O Rio, assim como outras grandes cidades da época, também estava passando por uma epidemia de Febre Amarela e  Varíola e era de extrema importância um meio de controlar isto, até que com a volta de Oswaldo Cruz, médico cientista que tinha viajado para a França para obter conhecimento médico, tornando-se um dos maiores infectologista do mundo, cria a Vacina da Febre Amarela. Oswaldo recebeu cartão branca do governo para a aplicação obrigatória da vacina, acontece que, esse governo não se preocupou em instruir a população sobre a necessidade da vacinação, seus possíveis efeitos, o que se esperava dela e que o agente de saúde teria total direito para adentrar nas casas com um oficial para aplicar a vacina em todos ali, independentemente, se o pai de família (considerado autoridade máxima familiar da casa, naquele tempo) estivesse presente ou não. Ocasionou na morte de muitas pessoas, bairros chegaram a ser sitiados e bombardeados, o bairro da saúde foi o principal local onde a revolta foi maior. A ignorância do povo, a negligência do Governo em informar a população e alguns opositores de quem governava que disseminaram "fake news" sobre a vacinação, como por exemplo a de que caso você se vacinasse iria virar vaca (hoje em dia você pode virar um jacaré). Essa revolta durou uns 7 dias, resultando em muitas mortes e diversas pessoas presas, acabou com o povo aderindo a vacinação mediante o enorme número de pessoas que já haviam morrido pela revolta. Além disso, também tinha consequências a quem não tomasse a vacina, como por exemplo: A pessoa que não tomasse, não podia receber seu salário, não podia se hospedar em hotéis, viajar e nem se empregar, ou seja, não era obrigatória, mas tinha sanções a quem não se vacinasse. A revolta é marcante na história não pela sua duração mas pela enorme insatisfação do povo, suas articulações e o enfrentamento ao Governo. 

  • A Revolta da Chibata (1910): Marinheiros da cidade do Rio de janeiro, também se revoltaram contra o governo e contra a Marinha. Dentro das Forças Armadas, ainda existiam castigos físicos, como a chibatada, e uma vez que os cargos mais baixos da corporação eram ocupados por negros e mestiços,  eram eles os mais punidos com chibatadas quando violavam alguma regra. A proposta da revolta era colocar um fim nesses castigos desumanos, os revoltosos então, decidiram tomar quatro potentes navios que a Marinha possuía e ameaçaram atacar a cidade caso a exigência de uma negociação acerca de seus interesses não fosse atendida. Eles conseguiram grande apoio popular e o governo teve que negociar afirmando que tais castigos iriam ser extinguidos. Acontece que, alguns dias após a negociação ocorreu um motim em um dos quarteis e associaram-na à revolta, trazendo todo o processo do acordo para o 0, de forma que, a Revolta passou a ser duramente combatida, o principal líder João Cândido e outros foram açoitados, muitos dispensados da organização, presos e até assassinados. Tendo também ocorrido o caso de alguns marinheiros terem sido mortos cruelmente por intoxicação por cal e os laudos da Marinha apontarem que morreram por insolação, observação: insolação dentro de uma cela. Podemos notar então que, a Revolta da Chibata é mais um exemplo de como o poder público agia violentamente em prol, unicamente, de seus interesses, sendo perceptível também, em como um excedente da escravidão ainda existiam dentro de uma Força Armada.

  • A Revolta do Contestado (1912 - 1916): Muito comparada com a Guerra de Canudos, visto que, uma certa quantidade de sertanejos pobres também encontraram no discurso de um líder religioso, chamado José Maria, uma alternativa para sua vida e passou a segui-lo. Esta durou mais tempo, teve proporções maiores e ocorreu numa região disputada pelos estados de Santa Catarina e Paraná, região essa que foi entregue a Percival Farquhar, um magnata da época, para que ele construísse uma ferrovia que ligasse o Rio Grande do Sul a São Paulo. Nesse processo de construção da ferrovia, muitas pessoas que residiam na área da construção, foram expulsas por jagunços contratados por Percival, outras não receberam o dinheiro prometido a elas por trabalharem na ferrovia, sendo até demitidas pouco antes de receberem, isso então intensifica a pobreza da região gerando uma revolta enorme dos moradores da região. E nessa área contestada entre Santa Catarina e Paraná, residia um monge que atuava ativamente no bem comunitário, adquirindo até a imagem de santo, surgiu depois um segundo monge, esse que pregava contra a república e o qual atraiu a população que estava revoltada com tudo que vinha acontecendo a eles. A guerra em si começa em outubro de 1912, quando um grupo de pessoas lideradas pelo monge José Maria instalou-se na região contestada pelos dois estados, esse agrupamento de pessoas foi interpretado pelo Paraná como uma invasão coordenada pelos catarinenses, e então atacaram os sertanejos. Nesse ataque, José Maria acabou sendo morto, gerando uma revolta maior ainda do povo que prosseguiu fundando uma série de comunidades autônomas. A existência dessas comunidades era enxergada pelos coronéis locais como uma ameaça, e foi daí que se iniciou uma dura repressão contra essas comunidades, ocasionando na destruição delas, na morte de cerca de 10 mil pessoas e nas décadas seguintes ainda foi realizado um processo de branqueamento daquela região.

     As quatro revoltas tratadas anteriormente foram apenas as maiores desse período, pois, ao longo dela, diversas outras ainda aconteceram em diferentes partes do Brasil. Assim, mediante as revoltas, nos fica evidente a insatisfação do povo com o governo da República Oligárquica.

- Algumas Curiosidades:

  • A revolta da chibata teve inspiração em revoltas do exterior, mas principalmente na revolta do Encouraçado Potemkin, em 1905, na Rússia, a qual, ficou conhecido como Domingo Sangrento e provocou uma série de protestos culminando em greve geral de trabalhadores e na rebelião dos marinheiros. Os marinheiros brasileiros obtiveram essas inspirações após algumas experiência em simulação de guerra de países aliados, o que trouxe para esses marinheiros brasileiros, inspirações acerca de suas posições na sociedade incentivando-os a busca por seus direitos.

  • A Revolta do Contestado tem esse nome devido a região a qual ela ocorreu ter ser sido disputada entre entre Paraná e Santa Catarina. Mas, anteriormente, era conhecida como a Revolta dos Monges, mediante a quantidade de monges que participaram dela.


Referências e Fontes de Conhecimento:



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